Boletín Comisión de Geoespeleología

FEDERACIÓN ESPELEOLÓGICA DE

AMÉRICA LATINA Y DEL CARIBE, A.C.

(FEALC)


BOLETÍN INFORMATIVO DE LA

COMISIÓN DE GEOSPELEOLOGÍA

No. 49,  Julio 2004

Coordinador: Prof. Dr. Franco Urbani

Sociedad Venezolana de Espeleología. Apartado 47.334, Caracas 1041A, Venezuela.

Telefax: (58)-212-272-0724, Correo-e:   urbani@cantv.net

Boletín Informativo de la Comisión de Geoespeleología, Federación Espeleológica de América Latina y el Caribe (FEALC).
Esta publicación es de carácter informal y no arbitrado, preparado con el único objetivo de divulgar rápidamente las actividades geoespeleológicas en la región de la FEALC. Sólo se difunde por vía de correo electrónico. Es de libre copia y difusión y explícitamente se solicita a quienes lo reciban que a su vez lo reenvíen a otros posibles interesados, o lo incluyan es páginas web. Todos los números anteriores están disponibles. Igualmente se pide que obtengan copias en papel para las bibliotecas de sus instituciones. Se solicitan contribuciones de cualquier tipo y extensión para su divulgación.

Geospeleology Commission Newsletter, Speleological Federation of Latin America and the Caribbean FEALC).
This publication is informal and not peer reviewed. Its only objective is to quickly disseminate the geoespeleological activities in the FEALC region. It is only distributed by electronic mail. It can be copied freelye and explicitly we ask to those who receive it to forward to other interested parties or to include it in Web pages. All the previous issues are available. It is strongly recommended that you obtain a paper copy for the library of your institution. Contributions of any type and extension are welcomed.

Índice

Amazônia subterrânea




Amazônia subterrânea

 

O oeste do Pará esconde a maior concentração de cavernas de arenito do Brasil. Uma descoberta no coração da Amazônia que agora começa a ser revelada

texto e fotos Adriano Gambrini

 

TESOURO ENTERRADO
As cavernas amazônicas vêm sendo exploradas 15 anos, mas agora o Brasil começa a conhecer segredos como a Planaltina, uma das maiores cavernas de arenito do país (abaixo).

 

 

 

As dolinas são o primeiro indíci o de que algo estranho. Dolinas são depressões na superfície da terra, formadas pelo desabamento do teto de alguma suposta caverna. Quando elas aparecem, são um forte sinal de que cavernas pelas redondezas. Mas num mundo de igarapés, cipós e árvores gigantescas, topar com cavidades subterrâneas é a última coisa que se espera. Mas a suspeita se confirma. Quando a selva se abre, surge um grande paredão rochoso que guarda a entrada de pequenas grutas. Um lago de águas paradas coberto de vitórias-régias serve de antes-sala. À frente, a Caverna Planaltina, uma das maiores cavernas de arenito do Brasil. Aqui mesmo, no coração da Amazônia. 

Como é que ninguém até agora havia notado? O espeleólogo paraense Roberto Vizeu havia. Vizeu foi um dos primeiros a explorar e mapear essas cavernas, trabalho que começou em 1987 e terminou recentemente. A conclusão a que chegou é

São mais de 100 cavernas espalhadas pela floresta. Planaltina, a maior delas, tem 1500 metros de extensão

A ILUSÃO DAS APARÊNCIAS
Embora pareçam meras grutas (abaixo), as aberturas na pedra levam a uma das maiores cavernas de arenito do Brasil, a Caverna Planaltina (acima).

surpreendente: "O oeste do Pará tem a maior concentração de cavernas de arenito do Brasil: mais de 100!" Elas se espalham pelos municípios de Altamira (aliás, o maior do mundo) e de Brasil Novo. Dessa centena, apenas quatro estão abertas à visitação. Mas exigem longas horas sacolejando na poeira da Rodovia Transamazônica e enfrentando as trilhas úmidas e os mosquitos da maior floresta tropical do mundo.

Os escorpiões e aranhas que decoram a entrada da Caverna Planaltina mostram que realmente estamos numa floresta tropical. E é preciso tomar cuidado redobrado. O primeiro salão tem cerca de 30 metros de largura e anuncia o calor abafado que sopra dentro da caverna - atenuado apenas pelo pequeno córrego Jeju. À medida que se penetra nesse estranho mundo, uma névoa densa começa a se formar, acompanhada de um ar intoxicado de amônia que invade as narinas e irrita os olhos. Obra da decomposição das fezes dos morcegos, chamadas de guano, que cobrem o solo da caverna. Mas a imagem supera tudo: as colunas branquíssimas se sustentam sobre uma fina lâmina de água no chão, que reflexo especial à névoa que paira no ar. Vizeu lembra que, cerca de dois anos, viu rastros de jacaré no leito do córrego. Agora, mostra o que acredita ser a marca do rabo e das patas. Na Amazônia, tudo é possível. Até jacarés habitarem cavernas.

A Caverna Planaltina tem 1500 metros de extensão. O que não passa de uma gruta quando comparamos com as cavernas de calcário, que no Brasil chegam a quase 100 quilômetros. Mas o fato de ser de arenito, e tão grande, torna-a uma raridade. Esse tipo de rocha esfarela com facilidade, e por isso não possibilita a formação de extensas cavidades subterrâneas. As cavernas, em geral, se formam quando a água da chuva, ao cair num solo orgânico e em decomposição, torna-se ácida. A acidez ataca a rocha, dissolvendo a estrutura que a mantém firme. No caso do arenito, sobram grãos de areia que vão sendo gradativamente erodidos e levados pela água. No fim, não é de se espantar que haja tanta areia nas cavernas da Amazônia, que, milhões de anos atrás, a grande floresta foi um vasto fundo de mar.

Na Amazônia, as cavernas são habitadas por seres da floresta. Além da vitória-régia,
aqui escorpiões, baratas gigantes
e o estranho amblipígio

As cavernas amazônicas estão cheias de morcegos (acima). Isso porque elas ficam muito distantes entre si, favorecendo a concentração de espécimes em cada uma. Outros bichos estranhos, como este grilo (abaixo), também não faltam aqui.

As cavernas de arenito têm uma beleza diferente das de calcário. Aqui, por exemplo, não espeleotemas - formações como os estalactites e os estalagmites que tanto são associadas à idéia popular de caverna. No processo de erosão química do arenito, não sobra mineral que possa ser cristalizado. É o que acontece no caso das cavernas de calcário, onde a água que dissolve a rocha leva junto uma dose de calcita, um mineral que pode cristalizar e formar uma infinidade de objetos decorativos subterrâneos.

Um pouco menor que a Planaltina, mas igualmente impressionate, é a Caverna do Limoeiro. Seus 1 200 metros de salões labirínticos são recortados por dois braços de rios. No chão, uma fina areia amarelada contracena com os fungos e líquens que recobrem as paredes de arenito. E a caverna também reserva surpresas. Num estreito conduto que liga dois salões, dezenas de morcegos decoram o teto da caverna. É um verdadeiro berçário, repleto de fêmeas carregando seus filhotes pendurados na barriga. Todas as cavernas amazônicas são pródigas em morcegos. "É provável que isso se deva ao fato das cavernas estarem muito espalhadas pela floresta, distantes umas das outras. Por isso os morcegos se concentram numa ."

O arenito é uma rocha que esfarela com facilidade. Por isso as cavernas amazônicas são menos exuberantes que as calcáreas

VALES ESCUROS
Na Caverna do Limoeiro, dois braços de rio desenham vales subterrâneos no meio da areia fina que cobre o chão.

 

Nas outras duas cavernas possíveis de visitar na região, a Amazônia continua surpreendendo. A Caverna Leonardo da Vinci é formada por um tipo de rocha sedimentar denominada folhelho, ainda mais rara na formação de cavidades. Com salões baixos e escuros, ela tem uma grande quantidade de guano dos morcegos, que, além de atrair baratas e grilos, provocou a formação de pequenas e intrigantes estalactites vermelhas de fosfato, numa complicada reação química com a rocha. Já na Caverna Pedra da Cachoeira, a surpresa está do lado de fora: a poucos passos de um pórtico de entrada de 20 metros de altura, uma bela cachoeira. Perfeita para aliviar o cansaço das trilhas e da descoberta de que, aqui, é possível encontrar lugares ainda mais escuros do que a floresta impenetrável. Na Amazônia, tudo é possível

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